26.5.10

o amigo imaginado IX

para theo craveiro, que me emprestou a imaginação

era uma dessas tardes de férias e eu estava, como mandam os bons costumes, na praia. boiava sobre a água salgada, os olhos mergulhados sob as pálpebras se escondendo do sol e do vento, nadava pra lá e pra cá. não cansava nunca. mas, rompendo com a minha paz, certo dia o mar começou aos poucos a esvaziar, esvaziar, até chegar à altura de uma piscina dessas de criança, rasas, bobas. eu, obrigado a ficar de pé, resmunguei e procurei ao redor uma explicação para tamanho absurdo. e, inacreditavelmente, lá estava ele, com os pés enterrados na areia, me observando quieto. se aproximou, os olhos azuis piscando culpados, me desculpa, ele disse, por beber a água do mar. me explicou que sentia muita sede durante o verão e que não resistira. quando perguntei se ele não passaria mal, me contou que era imune a qualquer enfermidade. em suma, podia fazer o que quisesse sem se preocuprar com consequências. o rapaz não tinha uma boa memória e se esquecera de como se chamava. eu o batizei com um nome comprido e composto só de vogais. viramos melhores amigos. ele faz tudo o que eu queria fazer e não posso. conhece lugares incríveis, não tem pesadelos, fica com as meninas mais bonitas e nunca vai embora pra casa antes da hora. é o meu conforto. fico feliz por ele.

3 comentários:

Francisco Vieira disse...

Eu quero conhecer esse homem também. Me fascina quem bebe o mar

Elisa disse...

Os homens bons existem...

diana sandes disse...

que eles passeiem sempre por aqui...