24.3.09

Exílio II

http://dianasan.blogspot.com/2008/10/exlio.html

Numa fotografia perfeita, estou deitada. O ombro dele contorna metade do meu rosto e emoldura – tudo escuro. Uma luz ilumina meu olho, como se quisesse me acordar. Um barulho de pássaros que só eu ouço. Acordo e cravo os dedos no ombro dele. Eles se conheceram na praia ao fundo. A cortina branca balança suave e dramática com o vento. Levanto e caminho pela casa escura atravessada pelos rasgos de luz que entram pelas janelas e portas. Subo as escadas porque de lá alguma coisa me chama, caminho mais cômodos até chegar em um quarto – grande, vazio, velho. Aqui é tudo papel de parece e chão de tacos corridos. Eu ando até a parede e me apoio nela. Do lado oposto, uma janela de vidro por onde se vê: lagoa, praia, baía. Como se a casa fosse ilha, o vento batendo na água que reflete a luminosidade dançante na parede de papel, primeiro de longe, depois cada vez mais perto, papel de parede, descascado e luz dançante. Descalça, quatro passos até o centro do quarto, mexendo a boca como se falasse e ninguém escutasse, vou agachando aos poucos, contorcendo e soltando sons com a boca, até me jogar no chão com o olhar duro. Espaço. A caneta percorre o papel e rabisca letras de máquina de escrever, substituindo palavras. Sussurra elas baixinho. Eu espio da porta, digo oi, boa noite. Te abraço e peço pra que leia pra mim. Não liga, me pega no colo e me deita na cama, cobertor até o pescoço, como quando eu era pequena, eu digo, baixinho, pra ninguém ouvir. Você continua: eles se conheceram na praia. era um dia de sol. o cheiro do outono no ar. Eu finjo que durmo e você acredita, você adorando narrar os meus sonhos. Eu imagino: um barco desses bem antigos me levando por uma água sem ondas, tudo cinza, cada vez mais cinza, assim: como se eu fosse uma ilha no meio de tanta água, e você, da janela da casa, ilha no meio de tanta água, cada vez mais longe.