30.10.08

Exílio I

Acordo ainda no escuro, levanto sem hesitar e saio pela porta do quarto. Caminho pela sala grande, as cortinas estão fechadas e tomo cuidado pra não esbarrar nos móveis até alcançar a porta da varanda, branca. Uma claridade invade tudo, fico cega por uns segundos. Me desacostumei com a luz. Logo os olhos se acostumam e os lanço em contra-plongée para o céu. Tudo cinza e vento, agora percebo o frio que faz, e eu vestida assim, mas que idéia. Camadas de nuvens ralas e longas cobrem o céu, escuras, tensas, carregadas em alta velocidade pela força do vento que sopra. Estática, insignificante, quase esqueço que ocupo um lugar na varanda. No meio do céu, lá no alto, um pássaro preto fura o vento e voa rápido contra a corrente. No entanto, é como se ele não saísse do lugar. Agora, com um pouco mais de atenção, posso vê-lo mais de perto, não porque ele se aproxime, mas porque o alcanço. De repente sinto medo, muito medo. Desgrudo meu olhar do pássaro e deixo-o cair em direção ao chão. É quando, mais uma vez, percebo que estou na varanda e sinto frio, e dada a escuridão que faz, isso não são horas de se estar acordada, deve ser um sonho, quiçá pesadelo. Melhor voltar pra cama. Atravesso a sala escura, passo pela porta do quarto e sumo. Talvez tenha acordado.

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