o jornal atravessa a porta
derramado no chão
com uma ponta pra cada lado
(a data e o vértice onde se vira a página)
ele não está dentro nem fora:
está entre
embalado na fresta que se escora no chão.
ou então é a fresta derramada no chão
(meio corredor de prédio meio sala de estar)
que atravessa a porta
por baixo, sorrateira, leve que só.
mas também é possível dizer, e eu diria
que por um ângulo curioso
é a porta com todo seu potencial
que atravessa a fresta que se escora no chão
quase partindo em dois
a fresta, essa que quase não notamos
por ser feita de ar.
na hora de sair de casa
bolsa aberta entre os braços
calçando sapato, ou em busca da chave
arranco o jornal do chão
e abro a porta com pressa: eis o corredor.
nesse momento, desfaz-se a fresta
da porta que abre
desfaz-se o peso da porta sobre a fresta
que não existe mais
e o jornal não atravessa mais nada
deitado no sofá vermelho
que um dia passou pela porta.
3 comentários:
Lindo o poema. fiquei arrepiado.
bj
muito legal e bem escrito, parabéns!
Fernando Chagas
Gostei muito desse!
Delícia de leitura...
Bjoos
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